O capital, logo que regressa à forma de dinheiro, flui para onde consegue obter mais lucro. Como é sabido ele ignora completamente as necessidades humanas. A produção de minas antipessoais vale mais que a produção de pastéis de nata? Então avance-se para a produção de minas. É assim que se estabelecem os preços de produção e a taxa média de lucro, como Marx demonstrou no 3º volume de "O Capital". Assim se reestruturam continuamente os ramos e a superfície do mercado; produtores de tubos transformam-se em empresas turísticas e grandes cervejarias entram no negócio farmacêutico. Sob as condições do esgotamento da acumulação real na 3ª revolução industrial, o movimento da taxa média de lucro é adicionalmente distorcido por uma economia de bolhas financeiras prenhe de crises. Sectores de produção e infra-estruturas de importância vital são desmontados ou desactivados.
Este desenvolvimento destrutivo há muito tempo que atingiu o plano elementar da alimentação humana. Com a globalização a produção de alimentos foi intensivamente capitalizada, como nunca antes fora. Assim ela está cada vez mais submetida ao processo em que se estabelece a taxa média de lucro. Nos supermercados alemães pode-se comprar em Janeiro espargos do Peru ou de África a preços elevados, enquanto nos países produtores as pessoas são privadas das bases da alimentação e passam fome. Simultaneamente a indústria global de alimentação transformou-se numa cozinha tóxica; os escândalos no sector alimentar sucedem-se. As classes médias ainda com poder de compra reagem a isto com uma ideologia do biológico. Os "outros" podem passar fome, mas eles querem uma alimentação saudável. O capital virou-se prontamente para o agrobusiness biológico; o que apenas tem por consequência que cada vez é menos "biológico" por dentro o que se apresenta como "biológico" por fora.
Na realidade aproxima-se sorrateiramente uma crise de bens alimentares de âmbito mundial. Segundo dados da FAO a superfície agrícola está em redução nos últimos anos; muitos terrenos estão exaustos com excesso de adubos e culturas intensivas, ou, na conjuntura de deficit elevado, são transformados em superfícies industriais e áreas turísticas com campos de golfe, ou acimentados pela especulação imobiliária. Os preços dos produtos básicos, como centeio, cevada, trigo, aveia e milho, explodem e com eles os preços das rações e produtos para animais. Uma vez que os preços da energia também estão em escalada e a produção de alimentos com capital intensivo está ligada a alto consumo de energia, o sector da alimentação tornou-se uma força promotora da inflação.
Mas não é só isso. À medida que a cultura de combustão capitalista esgota as reservas de energias fósseis a produção de biocombustíveis entra em concorrência com a produção de alimentos. Atestar um automóvel com etanol devora o consumo anual de cereais de um ser humano. Mas, ao apelo do lucro, a agro-indústria vira-se para as "energias renováveis", ainda com a auréola da "defesa do clima". No México já houve manifestações de massas contra a subida dos preços da farinha de milho, a principal base da alimentação. Também por cá há muito que a assistência médica de segunda classe vai de par com uma alimentação de segunda classe. Enquanto os rendimentos reais descem, sobem os preços dos produtos de fraco valor alimentar, antes baratos. Em breve talvez se imponha aos beneficiários do Hartz-IV a divisa "passar fome pelos biocombustíveis". A ideologia bio tem efeito bumerangue, porque não quer tocar nas relações capitalistas.
Original HUNGERN FÜR DEN BIOSPRIT? in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland 15.02.2008
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